Loi
-São cheios de bitolas esses nossos trilhos mal delineados. Xícaras brancas, café preto, pães de queijo, roupas amarelas, bandeiras verdes, milhares de cabeça, as mesmas idéias…
Acendeu um cigarro e levou à boca, os olhos vazios contemplando o tempo.
- No entanto, essa busca por algo fora disso acaba, paradoxalmente, se tornando um dos elementos que nos mantém dentro.
-Isso se encaixa perfeitamente em “as mesmas idéias”. É uma tendência atual “querer ser diferente”. De forma que se todos querem…
-Pelo contrário, eu quero ser igual porque quero ser diferente.
-Muito sábio de sua parte. “Conferem halos de transcendência a tudo que não pode portá-la”, ou algo assim, o que achas?
-A evidência da necessidade de sentir mais do que se sente. O próprio fato de acreditar que podemos sentir mais nos confere o poder de sentir mais.
-Eu acreditava em anjos, e porque eu acreditava, eles existiam.
-Ainda assim, quando se abre tanto a sentir as coisas você percebe que, com tantas pessoas, parece que a vida fica sendo cada vez mais ordinária e sem sentido.
-E por isso devemos nos contentar com a superficialidade?
- Não sei. O que sei é que uma vez que você percebe que vive e que não sabe o porquê não adianta voltar e tentar se dedicar a viver pura e simplesmente.
-Sim, a superficialidade passa a existir, mas diante de um escarnecimento cruel das suas convicções interiores.
- Não veremos o ovo pois já o vimos e o perdemos. Tampouco deixaremos de almejá-lo, já estamos enlameados de dúvidas graças à nossa busca.
- O que faremos?
Ajeitou o cabelo diante do espelho. Saiu do banheiro vazio da estação do metrô e foi trabalhar, mais uma vez…
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