Nuclear Power





E de repente eu sou obrigado a me encarar nu, raquítico. Despido até mesmo de linguagem, toda a experiência me tira um pedaço, e sou obrigado a sorrir e pensar que isso é felicidade. Ao pensar que é felicidade, ela me escapa. Me envergonho da nudez. Fujo do éden, e me cubro das mais diversas experiências, e do rancor, é assim que se apazigua o frio do mundo, virando pedra. Virar pedra não te impediu de me encontrar, no meu centro mais profundo, e me tirar de onde quer que eu tenha estado. Fora da concha, volto ao espelho, e encaro o vazio. Deslizando, você me deixa para permitir que me contemple e não consigo enxergar, como você, nada além do mesmo eu, despido de tudo, até de felicidade. Meus olhos te buscam sem sucesso e, num lapso de desespero, imagino que você me completa. Então reflito e concluo que a completude é a destruição, só se morre completo. Você, como tudo, me tira mais um pedaço e não estou despido de felicidade, mas não me permiti doar-me em cada partícula. Ainda estou em milhares de pedaços trêmulos, eles permanecem unidos. O que falta de mim ao mundo? Saio e me entrego e peço que o vento me leve, como o pó. Ele passa, indiferente. Ou talvez ele passe como se passe por um igual, e talvez eu também seja vento e também seja mundo e tenha que me doar a mim para me doar ao mundo e, enfim, estar vazio até não reconhecer mais o meu pecado. Eu sou meu, e me desfaço como pó porque eu sou o mundo, e, como o mundo, sou seu. Frente ao espelho, eu sou o espelho e sou tudo o que ele reflete, eu sou felicidade na matéria mais bruta, aquela que não faz a menor ideia de si.

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