NEON



Eu li naquele livro de química, aquele amarelo, neon é um gás, um gás que brilha?

Como eu posso saber? Eu não sou químico.

É, algo assim, você coloca energia e o gás brilha, não?

Se brilha ou não, o que muda?

Muda que seu rosto nessa luz fica sombrio, misterioso, e ainda lindo.

***

Como se satisfaz! O ego! Basta alguém não nos entender e já nos sentimos melhores, misteriosos, incompreensíveis, complexos. Complexos? Eu talvez até consiga imaginar uma possível complexidade proveniente de mim atualmente, mas o que tinha de complexo quando eu me achava assim? Eu sempre estou contente em me sentir burra numa época anterior, acabo concluindo que melhorei algo. Oh, como eu era tola. E não consigo parar de me menosprezar no passado porque, de fato, eu era menor que agora, e ao mesmo tempo teria medo de me encontrar com meu eu futuro me olhando com desdém; “medíocre” leria no meu próprio olhar e me sentiria mal. Porque sempre nos sentimos mal quando nos deparamos com alguém “superior” (e eu tenho tentado há tempos delimitar em que consiste essa superioridade)? Digo, não é uma coisa econômica, algumas pessoas riquíssimas falam comigo e eu não sinto nada além de pena. Não é uma coisa de aparência também, já me senti inferior diante de cada pessoa... Ah claro, vai ser tudo relativo ao que eu tenho como superior, mas, poxa, quem me explica aquelas pessoas que subjugam todos? Não sei como acontece exatamente, mas ele, em particular, é do tipo de pessoa que não importa o quão confiante eu pense que ficarei, chega e me destrói completamente com apenas um olhar, ou uma palavra. Mais frequentemente, porém, com a falta de ambos. Ontem, cheguei à universidade, coloquei minha bolsa sobre a mesa, sentei-me com ares de rainha. Ele chegou, imediatamente me arquearam os braços com o primeiro olhar e então ele cumprimentou a todos, com um aceno de cabeça, menos a mim. Aliás, que tipo de pessoa cumprimenta as pessoas uma a uma com um aceno de cabeça? Vá lá que eu estivesse numa mesa a parte fingindo escrever alguma coisa, mas com que direito ele faz isso? Bem, ele se sentou e tirou o caderno, calmamente, e com aquela mesma frieza calculada escrevia algo, era fluido, ele não hesitava, não repensava, era como que uma psicografia. Como me irrita que ele nunca vá me olhar! E quando saio de casa já tenho esse sentimento, ele não vai me olhar, não importa quantas mil vezes eu tente parecer inteligente e faça perguntas, não como ele, perguntando sobre coisas que até os professores ficam confusos e dispostos a pesquisar, mas coisas como “Mas por que essa cor na tabela periódica? Já que a escolha da cor é arbitrária, não poderia ser um tom diferente de azul?”. Eu já superei a fase em que pensava que ele era perfeito, embora ele quase o seja. Como me irrita estar apaixonada! Não gosto dessa minha fraqueza, talvez se eu fosse tão...indiferente quanto ele.

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