Il écrit de la main gauche...



É preciso falar do negror, do carvão que mancha nossas almas e é também a matéria de nossa criação. É preciso gritar como louco, uivo de lobos famintos nas noites frias. É preciso negar às vezes, mas também aceitar, doar-se, entregar-se, pecar, pegar ...as arestas, as estrelas. Dados são precisos, necessários, preciosos, para que com eles joguemos e neles baseemos o ... o quê? Para que julguemos. Precisamos do suco de mil limões queimando as gargantas, e das contrações estomacais (contraditórias) expulsando o que é puramente mau. Precisamos dos acordes (acorde!) depressivos que nos acodem. Precisamos da nossa própria malvadeza, de malva, de deusas! Precisamos de tudo e tudo não nos é dado na felicidade. Precisamos de fel, de cidades. Precisamos da solidão, do sol! Onde estávamos com a cabeça enquanto fomos alegres? É preciso escrever, é preciso falar do negror, do carvão...
Mas tu és puro rútilo, entre o castanho dos olhos e o sangue. Tu não deixas espaço para as imperfeições, tu és o balanço, tu me dás olhares ferozes quando sou pura doçura, ensanguentas as presas em minha carne quando estou além da verdade. Tu te transformas em mel em meus efêmeros momentos de amargura. Tu me espancas sendo a antítese de minha incompletude. Saibas que tu és benção encharcada em crueldade. Que não choro porque a minha fé ora gélida pedra esvaiu-se em vapor, sublimou enquanto pisquei os olhos. Saibas que olho por todos os lados a tua procura enquanto escuto teu riso abafado por véus e que não clamo por perdão, porque minha própria existência é um clamor não atendido. Sei que és dois caminhos, e as vezes compreendo que preciso escolher o pior deles. Sei que preciso incentivar as crianças a meterem os dedos nas tomadas para que depois as salve com tua muda face de censura. Sei que apesar da “alta carga semântica” das coisas boas, dos sorrisos e das memórias é preciso falar do negror, do carvão... 

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