Gaoth


19/4/14 -  Howth, Irlanda



Ignorando a horrível mistura do cheiro de barata de suas roupas com o shampoo em seus cabelos, se sentou num canto do quarto e escreveu:

É sempre de brisa, musgo e sal o que me lembra do som dos grilhões enquanto ando. A ferrugem da âncora que me faz ver além do farfalhar das minhas asas imaginadas. O peso dos meus compromissos. É sempre o que parece menos que me devolve a matéria enquanto eu me perdia, perdia a hora, a cor. É o excesso de realidade da fumaça dos ônibus que te borra o sorriso e o ar abobalhado que vem com os raios de sol.
Por outro lado, no excesso de frases começadas com o mesmo verbo, na repetição de sons, nas fricativas e oclusivas intercaladas, nas imagens recorrentes em poesia também se fala do peso da realidade. O que é técnico e poético? Não são, ouso dizer, asa e âncora separadamente, mas ambos ao mesmo tempo.
É sempre de brisa, musgo e sal, digo, e tu vais onde eu quero. É o chefe chato que te diz o que fazer que te salva da loucura e essa quem te salva do tédio. No final, a inércia que se busca não é a indiferença mas deus e o Diabo te puxando para o inferno e o céu. respectivamente.
A minha ignorância é escolher mais do que me é inconveniente.
Não te vendas por um prato de feijão a menos que estejas empanturrado, e aí não é a fome ou o feijão, mas um misto de ganância e humildade. O conforto da casa e família que te apartam do frio ou da solidão que todos buscam pode se parecer com a companhia e o conforto da prisão que condenam.

Ela escrevia, eles aplaudiam
o pôr do sol.
More spectacular colors, she said.


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