Eis o nada
Sou o fruto da indiferença bem regada e cultivada. Dificilmente despertará em mim alguma exaltação. Sou a chaleira no fogo que nunca ferve, a almofada que acata cada um dos alfinetes com resignação. Sou quem ri e satisfaz e assim não faz mais do que ignorar. Sou quem parece a água branda da superfície e nunca exibe o centro profundo. Sou a semi-raiva. Sou tudo que é pusilânime, tudo o que é covarde, se fores incapaz de me enxergar. Se for capaz, eu sou o olhar que dura séculos em um só segundo, o veneno concentrado, a força sonora indomável no silêncio, a concisão. Eu sou, e só posso ser a eternidade que, ainda eterna, é efêmera.
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