Sunflowers


Com o olhar vago e a boca entreaberta, ele levou o pirulito à boca. Os seus dentes, indiferentes, esmagaram o açúcar. Olhou pro céu. No momento mais escuro da noite, as estrelas aparecem. No mais claro do dia, um urubu. Concluiu. Correu até sua casa, ao quarto de sua irmã. Ao ver a estante pôs-se a triturar, como podia, livro por livro. Os dentes e o olhar agora sentiam. Não permitiria que um dos seus virasse uma Bovary. Novamente ele esmagava o açúcar. De que vale a vida doce se é mais morte do que vida? De que vale a vida amarga se é mais infeliz do que o que é possível? Pois, queimem os almeirões e destruam os chicletes! Eles são a mesma coisa, ao fim e ao cabo. Seu amor era o mais sincero, ele compreendia que a indiferença pelas lágrimas alheias, assim como a indiferença pelos sorrisos vazios era o que possibilitava que ele jamais fosse indiferente ao ser humano que estava por trás desses artifícios. Sua irmã o odiava, pensava que ele não a compreendia. Ele a compreendia, além de sua mediocridade, queria o melhor dela e para ela. Ela se perguntava: por que eu? Ele tinha enraizado em si o quadro dos girassóis.

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