In the silence I believe.


Atendeu o telefone, magoado:
Agora escuta! Você me fala do quanto sofre com meu silêncio. E, de repente, parece atrativo sofrer, quanto mais se sofre, melhor. Cada um que conversa comigo me diz do que sofre, o que sofre ou por que sofre. E me irrita que você pense que minha vida é perfeita porque não te digo que sofro. Pois direi. Todos aqueles que conseguem falar do seu sofrimento, sofrem de forma limitada. Não porque você é toda ouvidos e finge escutar, quando na verdade ignora, mas porque quem sofre em silêncio não delimita o sofrimento e sofre de tudo, até das alegrias. E isso você nunca entendeu. Você nunca soube aproveitar as nossas alegrias e sofrer, de verdade, a partir delas, ou ao menos entender o que acontecia comigo. Isso não é explicável, mas o mundo também não o é, tampouco o amor. Sobre ele também, você me cobra uma verborréia da qual não sou capaz, porque o amor não é uma palavra, nem é feito de palavras. Por esse motivo, rasguei suas cartas perfumadas e seus milhares de versinhos românticos, porque eu não consigo sentir nada além de pena das pessoas cujo amor cabe em rimas no infinitivo. Soube que você não me amava mais quando escreveu meu nome milhares de vezes no seu caderno. Eu não sou o meu nome. E não me interessa se a ele você direciona sua afeição, ou se achou um outro grupo de letras pra organizar o que você acha que sente. O amor foi aquele dia em que não nos conhecíamos muito bem, o assunto acabou e ficamos em silêncio. O amor não cabe no amor que você criou.


Comentários

folhetim felino disse…
Posso dizer que, é um dos textos que eu mais gostei e que eu achei mais verdadeiro, com toda certeza.

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