Nos porcos, pérolas
(desenho de Marcela Gutierrez)
Abençoa-me com a
capacidade de entrever o reluzir no negror do pântano
Permita que eu
enxergue nos rudes a delicadeza dos lótus,
que eu sinta cheiro
de jasmim entre corpos putrefatos
Permita que os olhos
das crianças me atinjam com lanças de sagacidade
Que transpareça na escuridão das nuvens o orvalho da manhã
E que nas cinzas mais
tristes me venha a epifania da restauração
Que eu enxergue a
malícia envolta na inocência
E as presas ferozes
nas falas mais serenas
Que eu perceba a
vileza entre os brilhos da ingenuidade
Que tudo me seja
ambíguo, misto, complexo
Que eu não aparte o
tigre do cordeiro
Mas, sobretudo
Que haja divindade
nos homens e poesia no ordinário
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