Almoçar Pipocas


Tenho pena dos grãos de milho. Eles são tão duros, pesados e travados. São como pequeninas e restritivas personalidades. E não há como libertá-los de sua miudez senão pelo sofrimento, ou por outra emoção qualquer. Pô-los ao fogo e vê-los sofrendo ao ápice. Mas não se faz pipoca sem óleo, e o óleo é razão. Se lançamos o milho ao sofrimento, sem óleo, ele torra e morre ,mas continua milho. Sobra óleo na escola, mas falta fogo. Os grãos de milho ficam gordurosos, ou garbosos, vai saber, mas continuam milho. No óleo e no fogo o milho sofre, chora, pensa. Dói muito, mas em um ponto ele frutifica, se esborra de sua milheza, empipoquece, fica leve e vive. Nascemos pipoca e somos re-emilhecidos. Literatura sempre soa como óleo e fogo.

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