Árvore



Só agora começo a me perder. Cansei de me encontrar, encontrar-se é definir-se e limitar-se. Agora eu quero a superioridade que existe na inferioridade que é se perder. Viver naturalmente sem idéias. SEM IDÉIAS! Pensando, mas sem idéias. Esgotei-me. Não tolero mais a pré-visão que me é sempre uma anti-visão. A pré-visão é a idéia do algo que o corrompe (o algo).Agora que me perco na escuridão, cego, enxergo. Antes eu pré-enxergava. Não quero mais ver essas letras, porque sabendo que são letras elas não mais me impressionam. Impressionar-se é viver. Mãe! Uma árvore! Olha! Mãe, olha! Uma letra, várias letras! Quero esvaziar-me. É paradoxal conhecer. Só desconhecendo conhecemos. É como escutar de alguém que uma árvore tem galhos e folhas e raízes, mas nunca ter visto. Só sendo esta tábua rasa, que é profundamente conhecedora, quando nos depararmos com uma árvore a veremos. Conhecendo as árvores elas viram nada. As árvores são misteriosas. E tudo o é. As árvores se escondem de quem as conhecem, elas detestam reencontros, e tudo detesta. Mas nada detesta e nada se comove. Nada nos comove, até nos depararmos com o nada. Só entendendo o inteligível eu posso me esvaziar, e me impressionar, preciso aprender a ser sincero. Preciso aprender a fingir tão profundamente que desconheço que as coisas me permitam reencontrá-las e me impressionar. Impressionado fico feliz, você sabe. E sigo com os pés descalços tocando a terra sem proteções de idéias. E com os braços estendidos, com a ignorância a postos, toco o céu. Olha mãe, uma árvore!

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